Maria de Lourdes Barbosa Pinheiro

Nascida no Ceará, no dia 1 de novembro de 1929, viúva aos 23 anos com dois filhos para criar, chegou ao Rio de Janeiro em 1955, de “Pau-de-arara” como milhares de irmãos do Norte e Nordeste que elegeram a então Capital Federal como local para reconstrução de suas vidas fugindo da miséria e da falta de perspectivas de vida para si e para seus filhos.

Lutou contra a discriminação de ser nordestina e mulher que resolveu traçar o seu destino por conta própria conseguindo através de muito esforço e dedicação manter unido seu pequeno núcleo familiar.

Com a ajuda de sua mãe e dos filhos conseguiu se transformar numa profissional competente e muito requisitada na indústria da moda do Rio tendo trabalhado para as melhores butiques da cidade. Embora a vida fosse de luta e trabalho via-se recompensada por estar conseguindo escapar da faixa de pobreza e miséria que conhecera na infância e que não desejava para seus filhos.

Quis o destino que a tragédia mais uma vez se abatesse sobre a cabeça desta mulher, quando seu filho mais novo contraiu doença incurável aos 12 anos vindo a falecer aos 18 anos.

Já convertida à religião evangélica Dona Lourdes começou, no bairro de Laranjeiras, a abrigar jovens viciados e drogados procurando resgatar estas vidas do mundo das drogas e do crime.

Seu amplo apartamento no tradicional bairro da Zona Sul tornou-se pequeno para tantas vidas que ali buscavam apoio ao mesmo tempo em que, mais uma vez, o preconceito tentou quebrar a coragem daquela mulher que os vizinhos entendiam como “louca” por dar amparo àqueles de quem as próprias famílias já tinham desistido.

Em 1980 D. Lourdes vendeu seu apartamento e comprou um sítio no Vale das Pedrinhas, naquela época território município de Magé, levando para lá alguns jovens e crianças que já eram  acolhidas por ela.

Em 1982 fundou a Comunidade Missionária Porta da Esperança já então uma Instituição para dar abrigo a  crianças e adolescentes de 0 a 18 anos. A Instituição praticamente nunca contou com o apoio do poder público tendo funcionado até o ano de 1992, quando com a saúde debilitada sua fundadora viu a Instituição sofrer severa campanha de difamação por parte de pessoas que pretendiam se apossar do abrigo.

A Porta da Esperança foi fechada e suas crianças dispersas por diversas outras Instituições ou foram entregues a famílias que as acolheram. No entanto estas crianças começaram a fugir e retornar ao único lar que conheciam obrigando aos órgãos de promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente, a reconhecerem a autoridade moral daquela que mais que  oferecia casa, comida e roupa, dedicava àquelas vidas amor e carinho.

Em 22 de maio de 1993, foi fundado a Associação Beneficente Renascer como forma de manter acessa a chama do trabalho iniciado pela grande lutadora Dona Maria de Lourdes. Por vezes passou pelas mais diferentes e inusitadas dificuldades, assim como soube enfrentá-las, com ajuda dos amigos mais próximos, e de sua família (seu filho, nora e duas netas) que sempre acreditaram nesse trabalho e que esta mulher tinha um dom e uma missão divina a cumprir nesta terra.

Além de continuar mantendo o abrigo para crianças e adolescentes do sexo masculino e feminino na faixa etária de 0 aos 18 anos,  passa a desenvolver nas comunidades  do entorno da Instituição,  Vale das Pedrinhas, Vila Olímpica e Saco, trabalhos de apoio comunitário com cursos profissionalizantes, reforço escolar e alimentar além de atividades sócio comunitária, atendo já neste período centenas crianças e adolescentes em seus diversos  Projetos e Programas.

Em 2005, essa mulher, amada por muitos, com diversos “filhos”, conhecida como “mãezinha” por ter mudado a vida de muitos, veio a falecer. No seu enterro, como fechamento do seu ciclo de vida, foi preciso alugar um ônibus para trazer ao Rio de Janeiro parte daqueles que ela ajudou a construir uma nova história.

Muitos se viram perdidos neste momento, por vezes o abrigo quase fechou, mas com a ajuda de um grupo de amigos, que já conheciam o trabalho e a historia dessa mulher, a obra foi tocada, com dificuldades a princípio, acontecimentos inesperados, mas sempre acreditando que Ela estava a olhar por nós e a nos guiar, orientando nas decisões.

Posteriormente, em 2007, com ajuda deste grupo de amigos que foi fundamental para sua restauração, a Instituição, em homenagem a sua grande fundadora, passa a ser intitulada “Instituto Maria de Lourdes”.
 
Por fim, para fechar história desta grande  mulher  que viveu em da  defesa e proteção das crianças e adolescentes em situação de risco, acreditamos que seu nome precisa ficar registrada nos caminhos daquela localidade.

Registra-se assim uma breve história de uma mulher que aprendeu na luta a superar a própria dor, para com sua força e exemplo nos ensinar a ajudar de forma conseqüente a mudar tantos destinos de crianças, adolescentes e famílias .